O inferno tão temido. Nenhum dogma oferece tanta
dificuldade ao homem de hoje como o da existência do inferno. Para os
não-crentes é motivo de escândalo e zombaria. Para os crentes, de
ceticismo (dúvida) e repulsa.
Bertrand Russell, em seu livro "Porque não sou
cristão", afirmava que uma religião que fala de "pranto e
ranger de dentes" é uma religião de crueldade. Outros sem chegar a tanto,
se perguntam como um Deus de amor infinito pode condenar a sofrimentos sem fim
suas criaturas. A pessoa não escolheu nascer, mas uma vez nascida, deve
obrigatoriamente começar a lutar pela vida. É justo correr o risco de
perder-se para sempre por um momento de debilidade, vítima de uma lei imposta?
Melhor é permanecer ateu, tentando viver o mais humanamente possível, sem
dar-se por ciente de semelhante fé...
Desde Gênesis, Deus se manifesta como doador da Vida. Tudo
que cria é bom, e cria particularmente o homem "muito bom" (Gn
1,31), à sua própria imagem e semelhança.
As palavras do Antigo Testamento valem mais ainda para o
novo. Deus quer a salvação de todos os seres humanos (1 Timóteo
2,4; 2 Pedro 3,9). Jesus anuncia a "boa
nova" (Evangelho), desta salvação, incansavelmente (Marcos
1,15; Lucas 4,16-21; João 3,17 ).
Tanto as bem-aventuranças (Mateus 5,1-12), quanto
as parábolas da misericórdia:
(Lucas15,1-31; Mateus20,1-16...) Nos revelam um Pai que BUSCA, CONVIDA, SE APROXIMA, ACEITA, PERDOA E SE RECONCILIA com o pecador e o marginalizado.
(Lucas15,1-31; Mateus20,1-16...) Nos revelam um Pai que BUSCA, CONVIDA, SE APROXIMA, ACEITA, PERDOA E SE RECONCILIA com o pecador e o marginalizado.
No entanto existe a possibilidade da negação e da recusa.
Jesus descreve com uma série de imagens as implicações vitais dessa
recusa; perder a vida (Marcos 8,25); não ser conhecido (Mateus 7,23); ser
deixado fora (Lucas 13,27); ser excluído do banquete (Lucas
14,24)... A perda da comunhão com Deus fará o pecador vivenciar um grande
remorso, ou seja, um "pranto e ranger de dentes"( Mateus 13,42).
Devemos devolver ao dogma do inferno sua seriedade. Para
conseguir isto, é preciso que nos desembaracemos das descrições mórbidas das
torturas que Deus parece comprazer-se em infligir ao condenado.
O Magistério da igreja afirmou claramente que o inferno não é
uma criação divina e que de modo nenhum Deus destina alguém à condenação. A
única "predestinação" do homem é o Reino do Céu, que já foi irrevogavelmente instaurado
entre nós por Jesus Cristo. Dito de modo mais claro, o Senhor nos
tem preparada a mesa do banquete e não a caldeira do inferno.
O inferno é uma possibilidade real da própria liberdade
humana. No final da vida humana termina o tempo de peregrinação e luta. Será
manifestado, então, aquilo que fizemos de nós mesmos, por toda
eternidade; nosso destino definitivo emergirá. Toca-se aqui a dimensão
mais profunda do mistério da liberdade.
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